quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Moutinho de classe mundial


  Quando jogava no Sporting e estagiava na Academia em Alcochete assistia, com alguns colegas, aos jogos das camadas jovens. Eram muitos os miúdos com qualidade em busca do sonho de ser profissional de futebol. Entre eles estava João Moutinho, já com o seu jogo competitivo.

  Como júnior chegou a treinar connosco e quando a passagem dele se verificou em definitivo já revelava maturidade e personalidade. Os jogos que entretanto realizou fizeram perceber isso mesmo. Consistente e equilibrado. Além da qualidade que demonstrava, tinha uma vantagem em relação a
estes jovens que agora despontam na equipa principal. Estava integrado numa equipa experiente, com jogadores mais velhos e tinha todo o apoio e suporte desses jogadores. Nunca era o responsável por nada a não ser por jogar o que sabia, o resto era tratado pelos outros.

  Já o disse e escrevi que esta é a melhor forma de integrar os jovens. Os dirigentes do Sporting na altura não perceberam e os de agora também não. Saem prejudicados os jogadores e o próprio clube, que não os potencia nem aproveita as suas qualidades.

  Puxando o filme atrás vejo como João Moutinho cresceu nesses seis meses que jogou comigo e na equipa principal do Sporting. Acabei a carreira no final dessa época mas continuei a acompanhar o Sporting e a evolução do miúdo.

  Um ano depois regressei como dirigente e pude acompanhar de perto o seu crescimento como jogador e como homem. Desde Janeiro 2005 o Moutinho nunca mais parou e já lá vão oito anos. Com 239 jogos na Liga e 84 jogos europeus a sua afirmação tem sido constante.

  É um jogador de alto rendimento, como poucos, e a sua competitividade e entendimento do jogo fazem dele um dos melhores médios europeus e mundiais.

  É um jogador de equipa e tem revelado, agora no Porto, a importância que assume no jogo colectivo. Sabe ocupar os espaços de forma inteligente sendo tacticamente evoluído e disciplinado. Consegue ser o ponto de equilíbrio, defensivamente e ofensivamente, da equipa marcando o ritmo, o momento de pressionar e ter a capacidade para circular a bola eficazmente. É o elemento mais importante da manobra colectiva do Porto.

  O jogo da passada semana contra o Málaga diz-nos mais uma vez quem é o Moutinho. Foi o jogador que mais passes efectuou (85) acertando 62 com uma eficácia de 73 por cento e foi o que mais passes recebeu (55) dos companheiros. Isto diz bem da sua importância e a forma como os seus companheiros o vêem, pensam e acreditam nele. A sua chegada à área adversária e a forma como remata mais vezes dá-lhe a possibilidade também de ser decisivo. E são os golos que o
fazem atingir outro patamar competitivo, elevando a sua dimensão como jogador.

  Este ano tem para já cinco golos, sendo dois na liga dos Campeões. O último foi o corolário da sua exibição. Hoje olho para os seus quase 27 anos e vejo-o num ponto alto de
maturidade competitiva e a expressar a sua qualidade sempre com rendimento. O fim da época aproxima-se e a provável saída para um grande do futebol europeu pode ser real.

  A necessidade de realizar receitas extraordinárias colocará Moutinho fora do Dragão? A compra da totalidade do passe dá essa indicação mas existem outras opções para encaixar bom dinheiro com vendas. Na decisão o dinheiro estará presente e será sempre importante mas espero que a opção não seja uma Rússia mas um projecto desportivo que o leve para outro nível competitivo e de exigência. A acontecer espero que privilegie o aspecto desportivo e a sua projecção futebolística.

  Este é também um momento de decisão para a gestão do Porto e para Moutinho. Teremos o médio como rosto e figura do Porto nos próximos anos e quem sabe terminar a carreira ou será mais uma das suas vendas? A identidade já reconhecida de jogador «à Porto» pode fazer dele a bandeira dos últimos anos de gestão de Pinto da Costa. Acredito que este pensamento esteja na cabeça do presidente do clube mas veremos se o dinheiro fala mais alto.

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