O último jogo entre o FC Porto e o Paços de Ferreira foi revelador. A
partida mostrou a importância que um João Moutinho em boa forma pode
ter no puzzle portista. O médio, que anteriormente tivera a hombridade
de assumir que estava a atravessar um período menos positivo, saiu do
banco para transformar totalmente a dinâmica de uma equipa que, até à
sua entrada, raramente criou perigo.
A tão propalada crise
exibicional do FC Porto nos tempos recentes, se é que podemos apelidar
assim uma equipa que vai em primeiro lugar, também está relacionada com a
baixa de forma de João Moutinho. Quem acompanha o futebol com atenção,
sabe que ver o internacional português a jogar mal, mesmo quando a sua
equipa perde, é coisa rara. No entanto, isso aconteceu.
Vítor
Pereira soube proteger o jogador, dando-lhe o descanso necessário para
que regressasse ao seu melhor nível. E frente aos pacenses, nos 45
minutos da segunda parte, voltámos a ver o João Moutinho do costume,
assumindo o papel de motor do jogo portista que, quando engrena,
contagia todos os companheiros à sua volta.
No meio-campo azul e
branco não faltam concorrentes para o seu lugar. No entanto, João
Moutinho pegou na batuta e dirigiu novamente a sua orquestra. Marcou e
deu a marcar, preencheu e abriu espaços, soltou a criatividade de James
Rodríguez e Belluschi e ajudou Fernando nas tarefas defensivas. O
pêndulo parece ter voltado a equilibrar a equipa.
Num jogo em que
Moutinho voltou a brilhar, a vitamina M parece ter entrado também em
ação. O primeiro golo surgiu de um lance infeliz do paraguaio Melgarejo,
que marcou na própria baliza, e o facto de ser um atleta emprestado
pelo Benfica terá certamente provocado um risinho matreiro em alguns
adeptos portistas. Mas não foram apenas estes os motivos para sorrir.
Tudo por causa de um jovem chamado Mangala.
O central francês tem
deixado indícios de poder vir a ser um caso sério. Do que se viu até
agora, tem tudo para se tornar um jogador de top mundial. Ao vê-lo em
campo, é quase difícil acreditar que se trata de um menino de apenas 20
anos. Talvez por isso ainda corra alguns riscos desnecessários, fruto da
irreverência da sua idade. Porém, consegue sair a jogar com a bola nos
pés de forma prática e decidida, é muito rápido nas dobras aos
companheiros, não dá espaço aos adversários e nas alturas é imperial a
defender, sendo igualmente um elemento a ter em conta no ataque, em
lances de bola parada.
Conseguem-se perceber alguns dos motivos de
tanta desconfiança em relação ao FC Porto. Igualar os feitos da época
passada seria uma missão tremendamente difícil, a saída (inesperada?) de
Falcão complicou ainda mais as coisas e, por outro lado, Benfica e
Sporting apresentam agora argumentos mais válidos na luta pelo título.
Mas isto não quer dizer que os portistas, num patamar mais baixo do que a
equipa de Villas-Boas, não têm uma palavra a dizer nas contas finais. A
sua liderança na Primeira Liga contesta as vozes críticas. Mas é certo
que vamos ter um campeonato muito mais equilibrado do que o anterior.
Já
o ressurgimento de João Moutinho é também uma boa notícia para a
Seleção Nacional. Aproximam-se os dois jogos com a Bósnia, para o
playoff de apuramento para o Euro’2012, e será vital para as nossas
pretensões podermos contar com um João Moutinho em bom nível, ambicioso,
ousado e com espírito de sacrifício na procura da vitória.