Há alguns anos, Nuno Gomes tornou célebre um "spot"
publicitário em que prometia pagar com golos uma
refeição numa cadeia de "fast food". No FC Porto,
João Moutinho alimentou-se de títulos na época de
estreia, mas assumiu, em entrevista a O JOGO, que também ele
ficara a dever alguns remates certeiros. Com o tento ao V.
Guimarães, e a quatro meses do final da temporada, a promessa
está paga, o que confirma que Moutinho se chegou à frente
para colmatar o défice que o próprio soube identificar.
Mas há histórias que não se esgotam nos
números, e o registo do português assenta muito mais num
processo individual do que numa dinâmica colectiva. Villas-Boas e
Vítor Pereira partilham a ideia de que um médio deve ter
liberdade e um raio de acção amplo, pelo que os terrenos
onde Moutinho se aventura resultam mais da sua autoconfiança do
que de imposições ou restrições
próprias da equipa. O internacional português conseguiu
esse clique e, como o próprio anunciara, passou a arriscar mais,
o que se repercute em mais remates por jogo (1,6, contra 1,33 da
época passada). Vítor Pereira incentivou Moutinho a
procurar os golos, mas não se pode dizer que tenha passado a
existir sinal aberto onde antes estava um travão, porque
também Villas-Boas entendia que Moutinho podia marcar mais.
Com as costas quentes por Fernando e Defour, o médio
não perdeu a sua faceta de construtor de jogo, somando mesmo
cinco assistências no campeonato (só Hulk tem mais), o que
lhe confere grande influência no rendimento da equipa. Depois de
uma época de estreia em que só marcou dois golos, e para
a Taça (Juventude de Évora e Benfica), Moutinho já
ameaça os seus máximos na Liga (cinco golos pelo Sporting
em 2007/08 e 2009/10, mas sempre com penáltis pelo meio) e
também já facturou na Selecção, o que
confirma que, mais do que o contexto, o que mudou foi mesmo a
confiança do jogador.
Na temporada em que perdeu um goleador de referência como
Falcao, o FC Porto diversificou as vias para a baliza e Moutinho
assumiu as suas responsabilidades, sendo já o médio mais
concretizador da equipa.
Joga mais perto da grande área
Carlos Pereira, antigo técnico-adjunto de Paulo Bento no
Sporting, aponta a subida no terreno como factor decisivo para
aproximar João Moutinho da baliza e... dos golos: "O FC Porto
joga mais alto, e isso aproxima João Moutinho da baliza. Depois,
ele tem funções mais ofensivas, mais liberdade no
terreno, o que lhe permite surgir mais vezes atrás do
ponta-de-lança, como se viu ainda agora contra o V.
Guimarães. Além disso, o João tem um
pontapé forte, que sai bem colocado, o que o favorece quando
joga mais no meio campo ofensivo e lhe permite marcar mais vezes."
in O Jogo
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